quarta-feira, 7 de abril de 2010

Depósito

E o lacre se rompeu. A embalagem que durou tanto tempo, que foi tão resistente, enfim cedeu. Quando eu ouvi aquele barulho senti uma dor que nunca havia sentido antes. Uma forte dor no meu peito, como se uma veia houvesse se rompido também. Pensei em sair gritando e ofendendo quem havia feito isso, e foi isso mesmo que eu fiz. Perdi o controle, eu não estava mais sob mim, era como se outra pessoa estivesse dentro do meu corpo, mas não era eu. Logo eu que sempre achei essas atitudes explosivas coisa de gente idiota, e que nunca tinham motivo concreto. Logo comigo. Porque aquele objeto não era só um simples objeto, era mais que isso. Era um depósito de lembranças, líquidas. Que eu guardava há tempos, e sempre usava, sempre usei. E quando eu ouvi o barulho dele estourando, entrando em contato rápido com o chão, poucos minutos depois eu senti uma lágrima escorrendo dos meus olhos, passando por minha bochecha até chegar aos meus lábios; eu estava chorando. Pode parecer tolo chorar porque um perfume caiu no chão, ainda mais eu, que nunca fui de chorar, mas não era só um perfume. Meus sentimentos, minhas lembranças, minha história estava toda lá dentro daqueles miligramas de água cheirosa, e agora não estão mais. Escorreram pelo ralo, e nunca mais voltarão. O cheiro ainda está no chão, vai demorar para sair, e enquanto não sair, as lágrimas em minha face ainda vão rolar, e eu ainda vou sentir aquela dor de lembranças arrancadas de meu coração, de minha memória.


'e se FOI, se jogou no mar aberto de ilusões...'

ps. não gosto de cine, achei que esse trecho da música combinava com esse texto.

Um comentário:

  1. Peguei um texto seu, mais coloquei a tua autoria no final, Lindas palavras. Beijinhos, Brunna Baronési

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